domingo, 16 de junho de 2013

Desabafo político.

Lembro-me que na última greve, a de 2011, quando eu estava na França, acompanhei avidamente as noticias pelas redes sociais. Li vários textos, um deles, me chamou a atenção pelo conteúdo tão verdadeiro que eu nunca tinha meditado sobre antes.

O resumo do texto era algo nas linhas de "Você não precisa confiar 100% no Movimento Estudantil, você não precisa concordar 100% com eles. Eles não são um movimento perfeito, mas se você for esperar um movimento político perfeito para agir nada nunca vai mudar, porque isso não existe."

Aquilo ficou comigo como uma das palavras mais sábias que eu tinha lido durante a faculdade. É por isso que posso ser feminista e ao mesmo tempo reconhecer que o feminismo atual é um movimento branco demais, classe média demais, cis e heteronormativo demais. É o que me permite tentar mudar de dentro, é o que me permite ver alguma coisa de bom ainda que um movimento falho.

Algumas pessoas não entenderam porque eu bati na tecla dos 20 centavos no meu último texto. Eu não gosto que a bandeira agora seja muito maior - o balaio de gato agora é maior. Vejo o povo do "Acorda Brasil" se alinhando ao movimento do passe livre, vejo gente convocando o pessoal pra fazer cartazes pedindo a redução da maioridade penal, vejo pessoas falando que o voto não presta pra nada. Um conhecido comentou sobre que o "foda mesmo, é que os pobres não lutam no movimento! Só fica a gente lá dando a cara ao tapa", sem o menor contexto histórico-social, claramente. Um velho amigo meu veio me perguntar se eu achava possível uma aliança do movimento com os militares. Segundo ele, seria vantajoso para todos - os militares também compartilham da nossa 'indignação'. Vejo demonstrações perigosamente nacionalistas.

Que indignação que eu compartilho com os militares?, eu perguntei a ele.

"A situação do país está uma merda.".

Hm.

http://www.viomundo.com.br/politica/tarso-cabral-violin-foi-a-elite-quem-vaiou-a-presidenta-dilma.html e http://www.viomundo.com.br/politica/fernando-brito-o-que-a-elite-vaia.html

Recomendo a leitura. A minha indignação não é a mesma que a de meu velho amigo. A situação genérica à qual ele se refere, definitivamente não é a mesma situação a qual me indigna.

A pauta contra a violência da PM tem a explicação que comentei no meu outro texto: quem está apanhando agora é a classe média, branca e rica. Quer dizer, não só, mas quem sai nas mídias só são esses. E jornalistas, claro. Foi assim que a maré virou.

Infelizmente, não vejo essas pessoas finalmente percebendo o contexto histórico-social dessa violência. O que poderia ser uma tomada de consciência por parte de pessoas que nunca sofreram essa violência reflete-se principalmente em pessoas participando da marcha, sem saber direito pelo que lutam. É pelo fim da violência da polícia nas manifestações? É pelo quê? Sei que não é pelos vinte centavos. Tenho minhas dúvidas sobre a abrangência do conceito de direitos humanos das pessoas aí envolvidas. Principalmente se são as mesmas que lutam pela redução da maioridade penal. Seria talvez a concretização da máxima que tanto clamam os comentaristas da Folha: "Direitos humanos pra humanos direitos"? Será que teriam eles finalmente ido às ruas também?

Porque afinal, definitivamente outra pauta que começa a entrar em jogo é a contra corrupção. Contra o PT. Contra a Copa. O tumblr compartilhou como louco um cartaz pedindo que os estrangeiros não venham para a Copa no Brasil. De que isso adianta? A Copa aqui será sediada, as pessoas já foram expulsas e já gastamos os bilhões. Quem tinha que superfaturar obra, já o fez. Se não recebermos nada em troca como país, ora, adivinha quem vai pagar o pato? Dica: não são os políticos.

Tenho medo de um movimento político grande desses, de surgir um anauê pelo Brasil aí no meio. Vejo as pessoas tentando barrar a participação de partidos na marcha, pedindo para baixarem as bandeiras. Ótimo. Mas vejo esses outros cartazes, vejo que as pautas já não são as mesmas que as minhas.

Resta a dúvida, pra terminar: e agora, José?

Não estou do lado do governo. Ainda assim, tenho medo desse movimento político que foi engolido pela classe média e cada vez mais se regurgita em forma de coxinha.

Participarei do protesto segunda feira com o texto daquele estudante na cabeça. Não é preciso concordar 100%. Não é preciso que o movimento seja perfeito.

Gostaria que ele não fosse um balaio de gato tão grande. Gostaria que ele tomasse uma direção mais definida. Gostaria que ele voltasse a ser sobre 20 centavos. Gostaria de saber pelo que ele está lutando, de verdade.

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